Biodiversidade é o conjunto de todos os seres vivos existentes, incluindo todas as plantas, animais e microrganismos do planeta. Nesse cenário, o Brasil possui lugar de destaque pois é o país com a maior biodiversidade do mundo, possuindo cerca de 20% de todas as espécies do planeta, e a flora mais rica do mundo, com cerca de 55 mil espécies de plantas superiores. Não menos importante, o Brasil possui uma imensa diversidade étnica e cultural, que traz consigo um vasto conhecimento tradicional sobre o uso dessas plantas. E é nessa riqueza que está o tratamento ou a cura para diversas doenças. 

É da natureza que foram obtidas as substâncias bioativas que deram origem a medicamentos como a tão conhecida aspirina, a penicilina, o captopril, as estatinas entre vários outros. Nesse cenário, as plantas têm colaborado de maneira significativa, seja na obtenção de novas moléculas bioativas, ou no desenvolvimento de fitomedicamentos, que são medicamentos de origem vegetal elaborados com extratos padronizados que concentram seus princípios ativos.

A biodiversidade oferece inúmeras possibilidades para a pesquisa e desenvolvimento de fármacos inovadores. Os produtos naturais, com destaque para aqueles provenientes das plantas, possuem uma enorme variedade química, o que permite que novos alvos sejam descobertos ampliando assim as opções terapêuticas para doenças que atualmente não possuem tratamento. Também, com o aumento da resistência microbiana à terapia tradicional devido ao uso indiscriminado de antibióticos, ou o surgimento de novos vírus, como recentemente o SARS-CoV-2, reforçam a necessidade de desenvolver novos medicamentos.

Em paralelo, existe uma tendência mundial por um estilo de vida mais saudável e isso faz com que as pessoas busquem cada vez mais por alternativas naturais em vários setores, o que estimula o uso de fitomedicamentos.

O mercado global de fitomedicamentos está projetado para crescer de $ 165 bilhões em 2022 para, aproximadamente, $ 347 bilhões até 2029, com uma taxa de crescimento anual de aproximadamente 11% no período. A Europa se destaca nesse mercado. 

Apesar da inquestionável importância dos medicamentos sintéticos, os medicamentos de origem natural possuem um grande diferencial que é sua estrutura bi ou tridimensional que faz com que sejam mais facilmente absorvidos e metabolizados pelo organismo, apresentando menores afeitos adversos. 

Os fitomedicamentos possuem uma mistura complexa de substâncias que podem apresentar sinergia e multifuncionalidade, atuando em diferentes alvos ao mesmo tempo. E mesmo quando não utilizados como medicamento principal, os fitomedicamentos podem ser coadjuvantes de tratamento, reduzindo o uso de fármacos mais agressivos. Porém, como qualquer medicamento deve cumprir todas as etapas regulatórias para avaliação de sua eficácia e segurança.

Dos 1881 medicamentos novos aprovados pelo FDA entre 1981 a 2019, 66% são produtos naturais ou originados de produtos naturais. A Organização Mundial da Saúde estima que 88 % dos países fazem uso da medicina tradicional, que inclui o uso de fitomedicamentos. Também, de acordo com a OMS, aproximadamente 11% das 250 drogas consideradas essenciais para cuidados básicos de saúde são originadas de plantas.

Após vencer todas as etapas de pesquisa, desenvolvimento e registro do novo medicamento, o grande desafio para produção de um fitomedicamento é obter o insumo ativo em larga escala. Isso demanda o estabelecimento de cadeias produtivas sustentáveis, rígido controle de qualidade da matéria prima, que vai desde o cultivo até a dispensação, e qualificação dos fornecedores.

Apesar do enorme potencial da biodiversidade, apenas uma pequena parte das espécies já teve sua bioatividade investigada. Por exemplo, apenas 10% de todas as espécies de plantas foram avaliadas em algum modelo biológico. Isso abre grandes oportunidades para o descobrimento de novos fármacos. Iniciativas bem sucedidas levam a estratégias para conservação da biodiversidade, valorização das comunidades tradicionais, uso sustentável de recursos naturais, aumento de investimentos e organização da cadeia produtiva.

Elita Schio

 

  • Professora Titular do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Juiz de Fora
  • Doctor of Philosophy – PhD, Produtos Naturais pela FIOCRUZ
  • Sócia e Conselheira da NAtiva
  • Sócia e Conselheira da FitoFit P&D Pesquisa e Desenvolvimento Ltda

Referências do artigo:

Newman, D.J., Cragg, G.M., 2020. Natural Products as Sources of New Drugs over the Nearly Four

Decades from 01/1981 to 09/2019.Journal of Natural Products, 83: 770-803

Karimi, A., Majlesi, M.,   Rafieian-Kopaei. M., 2015. Herbal versus synthetic drugs; beliefs and facts. Journal of Nephropharmacology. 4: 27–30.

https://antigo.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-brasileira.html

https://www.fortunebusinessinsights.com/herbal-medicine-market-106320

https://www.who.int/initiatives/who-global-centre-for-traditional-medicine