*este artigo é baseado na pesquisa realizada por Elisabeth B. Reynolds e Fernanda de Negri e publicada em “Universities as engines of innovation – the context for tech transfer in case studies from Brazil and the U.S” em Innovation in Brazil: Advancing Development in the 21st Century, Editora Routledge, 2019.
As universidades são consideradas cada vez mais como elementares para o desenvolvimento socioeconômico na sociedade do conhecimento. Dessa forma, compreendê-las e, principalmente, catalisar o avanço da ciência e a aplicação dessa para a solução dos grandes desafios que enfrentamos é cada vez mais necessário.
Nesse contexto, Elisabeth B. Reynolds e Fernanda de Negri dizem que as empresas têm reduzido seus investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e estabelecido relacionamento com as universidades para aumentarem suas capacidades de inovar, enquanto os investimentos públicos nas universidades e centros de pesquisa têm reduzido. Essas duas tendências têm direcionado cada vez mais as universidades a buscarem mais recursos com a iniciativa privada e aumentarem suas atividades empreendedoras¹.
As autoras compararam duas universidades de pesquisa de excelência, uma no Estados Unidos, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), outra no Brasil, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em relação às condições que essas proporcionam, bem como os incentivos para levar pesquisas da bancada para o mercado como consultoria, P&D, patentes e licenciamento.
Apesar das diferenças dessas universidades, ambas são líderes em transferência de tecnologia em seus respectivos países. Entre as diferenças, por exemplo, a Unicamp tem 4 vezes mais alunos de graduação e 2,5 de pós-graduação, mas tem aproximadamente o mesmo tanto de professores e pessoas no administrativo que o MIT. A Unicamp é super produtiva nesse sentido, mas sobra menos tempo para as atividades de pesquisa e colaboração com indústrias. Interessante observar que o MIT tem 1500 pós doutorandos enquanto a Unicamp tem 270, que proporciona pessoas altamente qualificada para desenvolver projetos, transferir tecnologias e criar startups.
A distribuição de áreas também é muito relevante, a Unicamp com significativa porcentagem em saúde, e o MIT nas engenharias, por exemplo. Da mesma forma, a fonte de financiamento dessas universidades é bastante distinta. A Unicamp é muito dependente de recursos públicos, em especial da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP), enquanto o MIT tem a fonte de receita muito mais diversificada, indo desde verbas públicas, mas também doações, parcerias com indústrias e demais instituições privadas.
Há diversos outros fatores que diferenciam essas instituições, indo das métricas e estímulos para a promoção às estruturas organizacionais, políticas públicas e cultura. E quanto a pergunta estabelecida no título? O que diferencia, do ponto de vista jurídico institucional, as possibilidades dos professores universitários inovarem? As autoras do estudo, a partir das normas dessas instituições, criaram a tabela abaixo que permite uma comparação visual entre diversos mecanismos de inovação dentro das universidades, indo de ser sócio de startups a consultoria, P&D e salários.
Interessante observar que as diferenças jurídicas institucionais de inovação para docentes de ambas as instituições são muito sutis. Grande parte das universidades brasileiras, principalmente a partir da Lei de Inovação e suas recentes alterações, possuem políticas semelhantes e possuem o arcabouço jurídico para inovar.
Chama a atenção fatores como maior autonomia dos escritórios de transferência de tecnologia, distribuindo mais a responsabilidade da empreendedorismo a mais instituições dentro da própria universidade; mais pessoas dedicadas a pesquisa como o número de pós doutorandos; maior número de funcionários para apoiar as atividades administrativas dos professores; e incentivos cada vez mais claros para estimular estes docentes.
Apesar do MIT ser um outlier em transferência de tecnologia mesmo se comparado a média das universidades americanas e consiste em uma inspiração para muitas outras instituições. A comparação entre essas instituições líderes em transferência de tecnologia em seus países podem gerar muitos aprendizados para aumentar os resultados em relação ao alcance e geração de valor do conhecimento gerado na sociedade.
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Daniel Pimentel é advogado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, mestre em modelagem de sistemas complexos pela Universidade de São Paulo, idealizou e coordenou o primeiro Ranking de Universidades Empreendedoras e atualmente é Diretor de Universidades e Transferência de Tecnologia na Emerge.
[1] “Universities as engines of innovation – the context for tech transfer in case studies from Brazil and the U.S” em Innovation in Brazil: Advancing Development in the 21st Century, Editora Routledge, 2019.