O papel e a importância das universidades e cientistas empreendedores no desenvolvimento de inovação para o combate da pandemia da COVID-19.   

O conhecimento é um dos fatores que mais difere esta das outras epidemias enfrentadas pela humanidade. Seja o conhecimento proporcionado pelos meios de difusão da informação e comunicação ou, principalmente, pelo nível cada vez mais aprofundado da ciência. Desde a genética ou origem do novo vírus aos meios de propagação, diagnóstico ou tratamento.

A origem do conhecimento, da informação e da ciência na contemporaneidade possuem um berço, a universidade.

Na sociedade do conhecimento a universidade assume cada vez mais o protagonismo como o celeiro do conhecimento. Mas mais do que formar pessoas altamente capacitadas, pesquisar e descrever como o mundo funciona, essa instituição tem trabalhado cada vez mais para que esse conhecimento alcance a sociedade e resolva seus problemas e desafios

No caso do Covid-19 não é diferente.

Da identificação da doença, em 01 de dezembro de 2019, até a declaração de pandemia pela Organização Mundial da Saúde, em 11 de março de 2020, foram pouco mais de 4 meses.

Ainda em 2019, cientistas chineses de diversas universidades isolaram o novo coronavírus, então identificado como COVID-19[1], podendo sugerir sua origem e mutações genéticas. A velocidade que essas descobertas foram realizadas é sem precedentes.

A modelagem didática apresentada pelo Washington Post, em que ilustra a justificativa do isolamento social, foi desenvolvida por pesquisadores da John Hopkins University Center for Systems Science and Engineering[2], trazendo mais consciência da importância dessa medida.

Pesquisadores da Universidade Columbia (EUA) publicaram trabalho na revista Science em que demonstra que 86% de todas as infecções não estavam sendo detectadas e que os assintomáticos são os principais responsáveis pela disseminação da doença. O que reforça ainda mais cientificamente a eficácia do isolamento social[3].

Pesquisadores da Universidade da Pádua conseguira erradicar o Covid-19 na cidade de Vò na Itália, com 3 mil habitantes perto de Veneza, testando todos os cidadãos e tomando as medidas necessárias[4].

Do ponto de vista de tratamento, várias drogas utilizadas para outras doenças podem ter efeitos positivos para o Covid-19 e de forma recorde tem entrado em testes clínicos para comprovação de eficácia e segurança. É o caso do medicamento Remdesivir, que em um projeto liderado pesquisadores da Universidade de Vanderbilt e da Universidade da Carolina do Norte, tem potencial para combater também o novo coronavírus[5].

No que tange a vacinas, cientistas Israelenses do Biological Research Institute também estão na corrida para o desenvolvimento de uma vacina para o novo corona vírus[6], bem como na Inglaterra, pesquisadores da Oxford University estão começando os testes clínicos para a vacina[7].

Diversas grandes empresas e startups de biotecnologia também estão na corrida para o desenvolvimento de vacinas ou tratamentos, como Sanofi, Pfizer, Johnson & Johnson, Moderna e Takeda[8].

Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong (HKUST) tem desenvolvido desde robôs autônomos para ajudar a prestar assistência e serviços até um esterilizador que remove até 99,99% dos diferentes vírus. Além disso, vários veículos autônomos foram equipados com mapeamento 3D em todo o terreno e tecnologias de navegação visual e por sensores em larga escala foram implantados em várias cidades afetadas na China[9].

O leitor atento deve ter percebido apenas a citação de universidades estrangeiras e questionado o que as universidades brasileiras estão fazendo. Ou o leitor desavisado pode até repetir o discurso sem fundamento que a universidade brasileira não é de qualidade. Vejamos.

Ocorre que, desde o primeiro caso no Brasil, pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Instituto Adolfo Lutz sequenciaram o genoma do Covid-19 em 48 horas[10]. Este diagnóstico é essencial para o desenvolvimento de testes e tratamentos.

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Além disso, as universidades brasileiras foram as primeiras instituições a suspenderem as aulas para “achatar a curva” a partir do isolamento social e criarem canais de comunicação[11] confiáveis a fim de esclarecer de forma didática a importância de mobilização de toda a sociedade.

(USP)[12], a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)[13]Universidade de Brasília (UnB)[14] e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)[15], por exemplo, criaram redes colaborativas reunindo diversas unidades e departamentos internos para realizarem testes diagnósticos, disponibilizaram leitos e laboratórios para atender toda a população. No caso da UnB, somente essa instituição fará até 700 testes por dia.

 

Importante ressaltar que essas iniciativas têm tido uma adesão impressionante de cientistas voluntários. Lembrem-se que eles recebem uma bolsa de R$ 1.500 a R$ 2.200, e que foi neste mês ainda mais cortada pelo Governo Federal.

Universidade Federal de Lavras (UFLA) tem produzido álcool em gel e doado para uso dos militares[16].

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem capacitado técnicos de laboratórios de todo o Brasil e países da América Latina para o diagnóstico laboratorial do Covid-19. Além da capacitação, a Fiocruz produz kits com insumos para os testes, tendo preparado mais de 20 mil[17]. O Instituto Butantan fará 1.000 testes de covid-19 por dia em SP, podendo chegar até a 2.000.[18]

No que tange ao desenvolvimento de novas soluções, pesquisadores da Unicamp iniciaram a elaboração de teste para diagnóstico local do coronavírus, além de mais acessíveis financeiramente[19]. Pesquisadores do Instituto de Física da USP desenvolveram um dispositivo que descontamina superfícies, inclusive o vírus, por meio de luz[20].

USP iniciou o desenvolvimento de vacina contra o Covid-19 diferente da americana. Jorge Kalil, um dos pesquisadores responsáveis, endossa a necessidade de ter pesquisa em andamento e cientistas dedicados a diversas temáticas, pois quando surge uma emergência, é para alterar o rumo[21].

A solução para problemas complexos como desafios globais que enfrentamos hoje virão do conhecimento. Obviamente, as universidades não são as únicas responsáveis por encontrar as soluções. É necessário a participação e colaboração de todos os entes. É necessário políticas públicas sólidas, em especial em educação, ciência e tecnologia para que estejamos preparados para os próximos desafios que virão. É necessário que as empresas avancem na consciência do desenvolvimento dos seus produtos e colaborem com centros de pesquisa para aderirem cada vez mais valor ao seu negócio. É necessário que a sociedade apoie e colabore com os direcionamentos de política pública, em especial em ciência e tecnologia. É necessário que as universidades sejam ainda mais empreendedoras e além de formar pessoas e avançar no conhecimento, devem também alcançar a sociedade das mais diversas formas.

Este é um desafio que estamos vivendo e está pondo a humanidade a prova. Teremos consciência, colaboração, infraestrutura e cientistas para resolver os próximos desafios que virão?

Há tantos outros desafios como outras doenças (muitas negligenciadas), mudanças climáticas, resíduos sólidos, fome, extinção da vida animal e vegetal que já vivemos que podem ser tão nocivos a humanidade quanto o Covid-19, mas são mais silenciosos. O que vamos fazer? Qual será nossa conduta.

Em “Faça-nos um favor”[23], o editor da Revista Science disse que talvez devêssemos estar felizes. Três anos atrás o atual presidente americano declarou cético quanto as vacinas, agora ele quer uma. Se ele, Mr. Trump (ou nós) [22] quer (emos) alguma coisa, quer alguma coisa, deve(mos) começar a tratar a ciência e seus princípios com respeito.

Assim como o que difere nesta pandemia é o conhecimento, provido especialmente da ciência, é com ele e com ela que devemos resolvê-lo! Com a ciência que sai das bancadas dos laboratórios e se tornam soluções para o mercado e para a sociedade. Esta é a ciência empreendedora!